terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Ateísmo, Deus e Ética


                                                                                            Originalmente publicado no Bule Voador


Pintura do francês Alexandre-Louis Leloir - Jacó lutando com o anjo, suplicando sua bênção


Como pessoas ateias agem moralmente se a presença de Deus é irrelevante em seu cotidiano? Antes de acusar o bom teísta de preconceito é possível mostrar-lhe que sua ideia sobre ausência de moral na ausência de Deus está equivocada.
Imagine 02 experimentos mentais, e para cada um deles duas possíveis ações:
  1. Maria é casada e frequenta uma academia. Por motivos irrelevantes aqui, considere que seu marido nunca a acompanha nesta atividade. Um homem solteiro se aproxima dela e começa um diálogo. Passados alguns dias, e outros papos, o homem a convida para sair. Ele sabe, entretanto, que Maria é casada. Ela reforça esse detalhe, e mesmo assim ele insiste.
Ação A: sentindo-se incomodada, Maria decide se afastar do homem e troca de academia.
Ação B: Maria cede e acaba traindo o marido.
  1. João está enfurecido com alguém por uma razão banal: Não conseguiu controla-se pelo simples motivo de ter recentemente conhecido uma pessoa da qual discordou dele de vários aspectos políticos atuais.
Ação A: João consegue esfriar a cabeça ao decidir dar uma volta na quadra.
Ação B: João pega numa arma e mata seu interlocutor.
Nos dois exemplos a ação A seria uma das possíveis esperadas naquilo que a maioria das pessoas considera como moralmente correto. Traição e assassinato por razões fúteis são atitudes normalmente tomadas como desprezíveis.
Faço a pergunta: Nos dois casos, por qual razão seria necessário invocar alguma entidade divina para justificar a ação A em detrimento da ação B. Mesmo assumindo que o teísta consiga parar para pensar nos mandamentos em uma situação de vulnerabilidade emotiva, não é óbvio que a crença na existência em Deus seja condição necessária para ações morais corretas. O que está em causa é o seguinte: Até pode ser o caso de em alguma medida a crença em Deus ser relevante para a tomada de ações éticas, mas não é o caso que a crença na sua inexistência (um ateu) impeça da pessoa decidir pela ação A.
Comumente se insiste que ateus são incapazes de agir moralmente. Isso parece assumir que há uma correlação positiva entre acreditar em Deus e ser uma pessoa ética, ou, nas palavras de muitos, que há uma correlação positiva entre ser um ateu e ser infeliz e imoral. Se isso fosse verdade os países escandinavos (como Suécia, Dinamarca e Finlândia que possuem um número expressivo de pessoas declaradas ateias) estariam sempre no topo da lista dos países mais violentos e mais infelizes. O que se vê é justamente o contrário. Acontece que tomar estes dados e assumir (pelo menos a priori) que pessoas ateias são mais felizes e moralmente mais virtuosas está tão equivocado como assumir que pessoas religiosas são mais propensas a serem mais felizes e mais virtuosas pela mera razão de acreditarem em um Deus. Que o ser humano é um mosaico de complexidade psicológica já deveria ser claro. O que é espantoso é a permanência da ideia  falsa que alega impossibilidade de ações morais para a pessoa ateia.
Para quem não consegue vislumbrar a possibilidade de ações morais sem a presença de Deus está desconhecendo o mínimo de um trabalho filosófico extensamente elaborado ao longo da história intelectual humana. Colocando de outra forma a pergunta do teísta: Como seria possível as ações A dos exemplos supracitados se uma pessoa “não tem Deus no coração”? Bem, existem ao menos quatro teses morais que, embora diferenciadas em detalhes, chegariam no mesmo resultado moral. Destas, só uma assume a existência de Deus. Estas éticas são: a cristã, das virtudes, a deontológica/Kantiana e a utilitarista/consequencialista. Com pouca reflexão é possível defender que as ações A são as mais corretas nestas quatro teses éticas. O que fica logo evidente é que a existência de Deus é um tanto irrelevante (mesmo que ele exista) para que pessoas possam agir moralmente.
Não estou assumindo que todas as pessoas ateias conhecem minimamente as teses morais que prescindem da existência de Deus para funcionarem. Mas estou a dizer que uma das coisas que os filósofos eticistas fazem é tentar encontrar razões que normatizam como as pessoas agem (ou deveriam agir) moralmente, mesmo que muitas vezes elas nem saibam como justificar à luz de teses morais o porquê de escolherem a ação A ao invés da B.

Por fim uma alfinetada inevitável: Paulo de Tarso é muitas vezes apontado como um misógino e homofóbico e alegava que só haveria salvação para aquele que aceitar os dogmas sobrenaturais do cristianismo. É verdade, entretanto, que há outros que dirão o diferente: O que importa são as ações, então um ateu com boas ações poderá ir para o céu. Essa defesa, entretanto, embora mais respeitável que a postura de Tarso, desemboca na mesma independência de Deus comentada acima. Você até pode ser uma pessoa melhor acreditando em Deus, mas disso não se segue que será uma pessoa ruim caso não acredite. Se ao ateu não é garantido a salvação cristã (assumindo que isso seja sequer relevante para ele), então eu diria os cristãos: Seja cético com seu Deus, no mínimo ele não gosta muito de pessoas que são curiosas e questionam a existência de uma entidade que não parece fazer muito esforço para mostrar sua existência óbvia no mundo.

domingo, 6 de novembro de 2016

A orientação sexual parental importa? Um acompanhamento longitudinal de famílias adotivas com crianças em idade escolar


Originalmente traduzido para o blog Bule Voador

 Por quase uma década, a professora de psicologia Rachel H. Farr (Universidade de Kentucky)  tem estudado diferentes aspectos da vida familiar entre heterossexuais, pais gays e lésbicas e seus filhos adotivos. Suas mais recentes descobertas foram publicadas pela revista Developmental Psychology.
Os resultados mais recentes da investigação de Farr fornecem mais apoio que as crianças adotadas por pais gays e lésbicas são bem ajustadas, não só no início da infância, mas ao longo de todo o tempo de desenvolvimento infantil. Seu estudo incidiu sobre um estudo longitudinal (*) de cerca de 100 famílias adotivas com crianças em idade escolar visando acompanhá-las como elas amadureceram desde o início até o meio da infância (**). Como resultado, os pais foram capazes de desempenhar seus papéis parentais e satisfeitos em suas relações de casal ao longo do tempo, sem diferenças por tipo de família.
Segundo a autora, “este é o primeiro estudo que acompanhou crianças adotadas por gays, lésbicas e pais heterossexuais ao longo do tempo a partir do início até o meio da infância (ver nota do tradutor). A pesquisa longitudinal (como esta) oferece insights sobre quais os fatores podem ser os melhores ou mais fortes preditores de desenvolvimento das crianças, para além de informações que podem ser reunidos em apenas um ponto do tempo.” E ainda segue: “Independentemente da orientação sexual dos pais, as crianças (no estudo) tiveram menos problemas de comportamento ao longo do tempo quando seus pais adotivos experimentaram menos stress de parentalidade. Um melhoramento do funcionamento da família quando as crianças estavam em idade escolar foi previsto quanto menor o estresse dos pais e menos problemas de comportamento  quando crianças estavam em idade pré-escolar. Assim, nessas famílias adotivas tão diversas quanto a orientação sexual dos pais, os processos familiares surgem como mais importante do que a estrutura familiar para os resultados da criança e o funcionamento da família.”
A pesquisa da Rachel H. Farr notou que “não há diferenças entre os tipos (heterossexual ou homossexual) de família” em uma  miríade de características como problemas de comportamento, níveis de estresse, relações de casal, funcionalidade familiar, ajustes de relacionamento ao longo do tempo e outros fatores. O autor ressalta também que estes achados, que suportam muitos outros resultados positivos entre famílias adotivas  por mães lésbicas, homossexuais ou heterossexuais, podem ser informativos para o sistema legal e com implicâncias políticas. Isso torna-se relevante no contexto em que, segundo algumas estimativas, pelo menos 65.500 crianças adotadas (equivalente a mais de 4% de todas as crianças adotadas nos Estados Unidos) têm pais compostos por minorias sexuais.

Referências
Livre tradução do ScienceDaily
Artigo Original: Farr, RachelH. Does Parental Sexual Orientation Matter? A Longitudinal Follow-Up of Adoptive Families With School-Age Children. Developmental Psychology, Oct 20 ,2016.
Nota do tradutor: Na literatura científica há várias outros estudos que convergem para resultados semelhantes. Lavner e colaboradores mostraram que filhos de casais gays e lésbicas não mostraram diferenças apreciáveis em testes cognitivos durante um acompanhamento de dois anos. Em outro estudo, foi mostrado que em comparação a uma amostra de pais heterosexuais, os pais gays reportaram comportamento parental similar bem como não houve diferenças no bem estar dos filhos desses casais em comparação aos pais héteros. Há, entretanto, opiniões que fornecem um contraponto com relação a metodologia de alguns dos estudos feitos na área — alegando, portanto –, que em alguns casos mais estudos ainda precisam ser conduzidos.
(*)Estudo longitudinal é um método de pesquisa que visa analisar as variações nas características dos mesmos elementos amostrais (indivíduos, empresas, organizações, etc.) ao longo de um longo período de tempo – frequentemente vários anos (Fonte: Wikipédia).
(**) O estudo foi composto por um acompanhamento de duas “ondas” (wave); uma quando as crianças estavam idade pré-escolar, e outra aproximadamente 5 anos mais tarde, quando as crianças estavam no meio da infância.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Sobre vegetarianismo

Uma estratégia ruim em favor do consumo de carne é sustentar que não há nada de problemático porque comer carne é gostoso. Uma estratégia ruim em favor do vegetarianismo é apelar para o seu interlocutor com um amontoado de fotos de animais brutalmente mortos visando o consumo humano.
Estas estratégias são ruins porque não levam em consideração algo basilar em uma boa argumentação: As premissas devem ser as mais universais possíveis. Enquanto que seria possível engendrar alguma argumentação no primeiro caso, o segundo sequer se preza a isso - já que não passa de um mero apelo emocional (aliás, muito similar ao que alguns contra a interrupção da gravidez fazem ao mostrarem imagens -- muitas vezes falsas --, de fetos humanos). Alegar "porque é gostoso" ou importunar pessoas com fotos desagradáveis não são premissas das mais universais possíveis, e os dois lados de um debate precisam de um esforço maior para não ficarem repetindo ideias intelectualmente preguiçosas.
Outro problema inerente é que parecem estratégias mais para "contabilizar armas" para seu grupo ideológico com intento de buscar agregar pessoas mais pelo grito e contagem numérica como se fosse um exército dogmático, sem se importar muito com a qualidade da argumentação. O que esta duas estratégias não enfrentam é justamente o que está em causa no vegetarianismo, a saber, se é eticamente condenável ou não o consumo de carne.
E o que seria um rascunho de uma boa estratégia em favor do vegetarianismo? Primeiro, como já dito, deve-se começar a investigar a questão moralmente relevante, o que pode ser feito com alguma reflexão sobre perguntas como: Animais não-humanos têm direitos? Em caso positivo, o que isso implica? Ou antes disso: Qual a relevância da questão dos direitos dos animais não-humanos se eles são seres sencientes (com capacidade de sentir dor)? Mas eles são, de fato, entidades sencientes? Mesmo diante de argumentos a favor o consumo de carne, não seria razoável uma atitude ética cautelar favorável ao vegetarianismo?
Para quem tem interesse no assunto são estas algumas das questões que precisam ser refletidas e debatidas. Haverá fraquezas e solidez de ideias ao longo desse processo. Muitas vezes não é fácil, nem é rápido: Pensar exige um pouco de comprometimento. De todo modo, é uma alternativa melhor do que a propaganda fácil e/ou a tentativa de convencimento através da gritaria, imposição ou mentira.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Mulheres na ciência

                                                                                      Originalmente publicado no blog Bule Voador

É lastimável a opinião que considera opções profissionais como sendo uma caixinha "para homens" e outras "para mulheres". E toda iniciativa que tenha algum efeito real de minimizar isso é bem-vinda. É nesse contexto que tem sido comum a consciência que há proporcionalmente menos mulheres do que homens na ciência brasileira. Isso parece ser verdade. Só que também parece ser verdade que nunca esteve tão fácil o acesso das mulheres aos cursos de exatas.
A tese levantada por muitos nem sempre reconhece isso, e vai além: Uma das causas, talvez a principal, é devido a alguma coisa que é alimentada pela cultura. Em alguma extensão tem sido popular a ideia que o sexismo é um dos fatores predominantes que acabam desestimulando mulheres a buscarem carreiras científicas. Embora eu conceda que isso possa ser um dos fatores, eu disputo a ideia que seja o principal.
Há hipóteses competitivas que podem dar conta de responder a discrepância. Uma maneira de responder isso com mais objetividade seria fazer um levantamento de quantas pessoas autodeclaradas mulheres entram em cursos de exatas e após os semestres iniciais desistem ou trocam de curso. Suponho que a troca voluntária de curso e/ou desistência seja mais expressiva entre as mulheres em comparação ao público masculino. Naturalmente isso afetaria a proporção numérica futura entre os sexos na formação acadêmica nas áreas de pesquisa. Possivelmente isso seja consequência mais de preferências biológicas e psicológicas distintas entre os sexos do que coisas como patriarcado e opressão. Por exemplo -- na média da população--, as mulheres tendem a ser mais adversa ao risco, preferem profissões menos competitivas e são emocionalmente mais expressivas.
Há evidências que apontam nesse sentido. Diferenças de personalidade entre homens e mulheres são maiores e mais robustas nas sociedades industriais mais prósperas e avançados como EUA, Canadá e França. Os países com alta expectativa de vida, altos níveis de alfabetização, educação e renda são susceptíveis de ter as maiores diferenças entre os sexos na personalidade. Provavelmente porque a prosperidade e igualdade trazem maiores oportunidades de autorrealização; assim, homens e mulheres têm o poder de ser quem mais realmente são (*). Não parece por acaso, portanto, que alguns dados apontam que há mais mulheres engenheiras na Rússia e na China do que nos países com maior igualdade de gênero. As mulheres americanas e europeias estão entre as pessoas mais educadas, bem informadas, e autodenominadas em toda a história da humanidade. E é plausível a defesa que na Rússia e China há mais mulheres em áreas das exatas muito mais por imposição do que por escolha livre (aí sim a tese do fator cultural parece ser preponderante).
A Noruega, um dos países de maior IDH, continua mostrando tendência para mulheres seguirem carreiras que envolvam mais contato com pessoas (por exemplo, enfermeiras) e os homens carreiras mais solitárias (por exemplo, cientistas) -- e isso vai ao encontro de que estas pessoas encontram um terreno que facilita a manifestação de seus verdadeiros interesses.
Outra linha de evidência (**) sugere que mulheres ao redor do mundo, mesmo em países onde os diferenciais sociopolíticos são grandes e há menor igualdade para a mulher, estão ganhando de homens em ciência e literatura. Em média, alguns dados mostram que os rapazes têm resultados educacionais piores do que meninas ao redor do mundo, independente dos indicadores socais de igualdade.
Portanto não é óbvio que toda diferença por gostos e atividades é derivada da cultura. Embora a cultura possa endossar papéis de gêneros parece que a biologia e a psicologia também desempenham algum papel relevante nisso.
Acredito que uma boa sociedade é aquela definida com elevado nível de satisfação, e não tanto com preocupação insistente em paridade estatística. Se os estudos preliminares estão certos, a igualdade de oportunidades é mais relevante do que igualdade de resultados entre homens e mulheres. É uma questão de respeitar e acomodar as diferenças individuais.
_______
Fontes
(*) http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18712468
(**) https://www.sciencedaily.com/releases/2015/01/150126125015.htm

domingo, 12 de junho de 2016

Entre o Céu e a Terra: Novas Descobertas sobre a Origem da Vida

Publicado Originalmente no blog Bule Voador

No último mês de Maio, duas publicações na revista Science lançam luz sobre algumas das perguntas ainda em aberto sobre a origem da vida no planeta Terra. O curioso, embora não incomum na ciência, é que ambas podem ser entendidas como complementares uma da outra. Um artigo é sobre a detecção de biomoléculas relevantes na nuvem de poeira e gás que circunda o núcleo de um cometa (coma cometária) e o outro explora um mecanismo viável de produção de bases nitrogenadas (componentes do ADN e ARN) em condições plausíveis na Terra primitiva.

No Céu
Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, Agosto de 2015
(Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, Agosto de 2015)

A possibilidade de que moléculas de água e moléculas orgânicas foram trazidos para a Terra primitiva por meio de impactos de objetos como asteroides e cometas têm sido objeto de debate nos últimos anos. É nesse contexto que o instrumento espectrômetro de massas ROSINA da sonda Rosetta foi projetado para estudar o coma cometária do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Para quem está esquecido, a sonda Rosetta é a “nave mãe” da sonda Philae, o primeiro instrumento a fazer um pouso controlado em um cometa em órbita.
Em outros estudos, o instrumento O ROSINA da sonda Rosetta já havia mostrado uma diferença significativa na composição de água do 67P/Churyumov-Gerasimenko em comparação com a Terra. Dessa vez, a descoberta é o potencial destes objetos cósmicos de entregar outros ingredientes da vida na superfície da Terra.
Mais de 140 moléculas diferentes já formam identificadas no meio interestelar. A despeito disso, os aminoácidos ainda não haviam sido rastreados. No entanto, pistas do aminoácido Glicina, um composto orgânico biologicamente importante e comumente encontrados em proteínas, foram encontrados durante a missão Stardust da NASA que voou pelo cometa Wild 2 em 2004. Contudo, a contaminação terrestre das amostras de poeira coletadas durante a análise não havia sido descartada. Agora, pela primeira vez, detecções repetidas deste aminoácido foram confirmadas pela sonda Rosetta após analisar o a atmosfera do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Importante destacar que a detecção de aminoácidos em materiais meteoritos caídos na Terra já é bem estabelecida, sendo mais de 80 deles já reportados em condritos carbonáceos.
 A glicina é muito difícil de detectar devido à sua natureza não-reativa: sublima-se a uma temperatura em torno de 150°C, o que significa que pouco é liberado como gás a partir da superfície ou subsuperfície do cometa devido às suas temperaturas frias. Um dos resultados encontrados no estudo foi uma forte correlação entre a presença de glicina e poeira, o que segundo os autores sugere uma liberação da molécula a partir mantos de gelo dos grãos depois de terem aquecido. Ao mesmo tempo, os investigadores também detectaram moléculas de metilamina e etilamina, que são precursores da formação de glicina. Ao contrário de outros aminoácidos, a glicina é a única que foi mostrada ser capaz de formar, sem água no estado líquido. Segundo a autora Kathrin Altweeg “A presença simultânea de metilamina e etilamina, e a correlação entre a poeira e glicina, também indica a forma como a glicina foi formada”.
Outra detecção interessante feita pela ROSINA foi, pela primeira vez em um cometa, a presença de fósforo. Como pode ser visto na Figura 1, é um elemento-chave em todos os organismos vivos e é encontrada no quadro estrutural do ADN e ARN. No total, foram identificados 16 compostos orgânicos, incluindo outras de destaque para o contexto da química prébiótica como o sulfeto de hidrogênio (H2S) e o cianeto de hidrogênio (HCN).
DNA
Figura 1: Esquema da molécula de ARN contendo a base nitrogenada guanina. Um filamento de ARN é formado de um arcabouço de açúcar (ribose) e fosfato com uma base ligada covalentemente na posição 1′ de cada ribose. As ligações açúcar-fosfato são feitas nas posições 5′ e 3′ do açúcar, como no DNA. Dessa forma, uma cadeia de RNA terá uma ponta 5′ e uma ponta 3′. Os nucleotídeos de RNA (chamados ribonucleotídeos) contêm as bases adenina, guanina, citosina e uracila (U). No caso do ADN, a Timina está presente no lugar da uracila.

Na Terra
Da TerraAntes de sistemas auto-replicantes terem aparecidos, a química prebiótica (reações químicas que antecedem a origem da vida) deve primeiro ter dado origem às subunidades que formam a base para os biopolímeros complexos encontrados em todos os organismos modernos – as proteínas e os ácidos nucleicos que especificam suas estruturas. Dentre as hipóteses, uma das mais aceitas atualmente é o “mundo ANR”. Em síntese, propõe que o ARN foi a primeira forma de vida na Terra, com posterior desenvolvimento de uma membrana celular em seu redor e convertendo-se assim na primeira célula procariota.
Entre as evidências que apoiam a hipótese do “mundo ARN” está inclusa a potencialmente da molécula catalisar a sua própria síntese e assim facilitando várias outras reações bioquímicas, além de também possui a capacidade de armazenar informação genética. Uma análise preliminar das possíveis vias de síntese levou a equipe da Ludwig-Maximilians-Universitaet (LMU, Munique) e colaboradores de seu grupo a um esquema de reação – o chamado caminho FaPy ¬ – que poderia ter sido ativado para formar purinas sob condições prebióticas. Duas (Adenina e Guanina) das cinco bases de nucleotídeos que codificam a informação genética armazenada no ARN e ADN são purinas (as demais são as pirimidinas). Elas também fazem parte das moléculas de ATP e GTP, ambas servindo como fonte de energia para as reações bioquímicas e como interruptores moleculares no controle de função de proteínas.
O caminho FaPy começa com a ligação da formamida (amida derivada do ácido fórmico) a aminopirimidinas, anéis que podem ser produzidos por uma série de reações entre moléculas de cianeto de hidrogênio. Isto dá origem a moléculas de formamido-pirimidinas (no inglês, formamidopyridines; daí o uso da sigla FaPy). Uma sequência de passos de reações subsequente converte a formamido-pirimidinas em purinas (adenina e guanina), e vários outros derivados biologicamente importantes. Os autores demonstram que é possível obter cerca de 70% dos produtos da via da FaPy como purinas, sendo a adenosina (formada pela união da adenina e ribose) – uma sub-unidade de ARN importante – representando cerca de 20%. Com o mecanismo FaPy, foi descoberta uma via sintética que fornece os componentes centrais da bioquímica de vida com elevado rendimento e com alta especificidade.

Entre o Céu e a Terra

As moléculas necessárias para o caminho da síntese FaPy estão disponíveis a partir do ácido fórmico e da aminipirimidina, que por sua vez podem ser formadas por compostos detectados através das análises da sonda Roseta. Tomado em conjunto, os dois artigos suportam a ideia de que cometas entregaram moléculas-chave para que a química na Terra primitiva pudesse eventualmente formar a vida como conhecemos. Em especial a detecção de aminoácidos, também suporta outras linhas de pesquisas nas quais têm sido propostas para a formação de peptídeos (formados pela união de dois ou mais aminoácidos) em condições da Terra primitiva, e que inclusive há brasileiros participando.
É verdade que ainda existem lacunas e dúvidas sobre a origem da vida. Mas com cada vez mais os cientistas têm trazidos novidades relevantes e animadoras para melhor entendemos uma parte da velha questão que tanto fascina a humanidade: De onde viemos?
________________________
Artigos científicos:

segunda-feira, 28 de março de 2016

A ética cristã

Originalmente postado no blog Bule Voador


Muitos cristão professam encontrar nos ensinamentos morais de Jesus as respostas para todas as questões morais da vida modera. Desnecessário dizer, Jesus abordou pouquíssimas das preocupações morais da sociedade atual. Por exemplo, ele não disse nada diretamente sobre a moralidade ou imoralidade do aborto, a pena de morte, guerra, escravidão, contracepção, ou discriminação social ou racial. Infelizmente, não é claro o que se pode deduzir sobre estes tópicos a partir de seus ditos ou de sua conduta prática. Sua doutrina de não resistir ao mal sugere que ele seria contra todo tipo de guerra, porém seu comportamento violento contra os cambistas nos templos sugere que ele pode considerar a violência como uma causa santa justificada. Seu dito “ame seu vizinho”, que implica amar seus inimigos, sugere que ele seria contra a pena de morte, porém suas ameaças ao fogo do inferno aos pecadores sugere que às vezes ele possa considerar a morte ou outra punição violenta como apropriada. 


Jesus não faz nenhum pronunciamento explícito sobre questões morais relacionadas ao socialismo, democracia, tirania e pobreza e o que pode-se inferir a partir de algumas coisas que ele diz parece estar em conflito com outras coisas. Considere sua atitude contra a pobreza. Sua defesa de vender tudo e dar aos pobres (Lucas 18:22) pode sugerir que ele se opunha à pobreza e queria eliminá-la. Entretanto, quando uma mulher usou um unguento caro na cabeça — e assim pudendo ser vendidos e dado o dinheiro aos pobres –, ela foi repreendida por discípulos, e Jesus a defendeu dizendo que “você tem sempre os pobres com você” (Mateus 26:11). Ele também parecia defender a pobreza material afirmando que um homem rico não pode entrar no Reino dos Céus (Mateus 9:23-24) e também que os pobres são abençoados e que deles é o reino dos céus (Lucas 6:20). Em alguns casos, o silêncio de Jesus sobre a moralidade de uma prática pode só pode ser interpretada como uma aprovação tácita. Por exemplo, embora a escravidão fosse comum no tempo de Jesus, não há nenhuma evidência de que ele atacou a prática. Como Morton Smith observou (*): 

Havia inúmeros escravos do imperador e do estado romano; o Templo de Jerusalém tinha escravos; o Sumo Sacerdote possuía escravos; todos os ricos e quase todo a classe média possuíam escravos. Tanto quanto nos é dito, Jesus nunca atacou esta prática. Ele entendeu esse estado de coisas como garantida e moldou suas parábolas em conformidade. Como Jesus coloca, o principal problema para o escravo não é para se libertar, mas para ganhar elogios de seu mestre. Parece ter havido revoltas de escravos na Palestina e na Jordânia na juventude de Jesus; e um líder milagroso de uma tal revolta teria atraído um grande número de seguidores. Se Jesus tivesse denunciado a escravidão, deveríamos quase certamente deveríamos ter indícios disso. Nós não temos estes indícios, então a suposição mais provável é que ele não disse nada a respeito. 


Além disso, se Jesus tivesse sido contra a escravidão, é provável que o seus seguidores anteriores teriam seguido seus ensinos. No entanto, Paulo (1 Corínios 7:21,24) e outros escritores cristãos primitivos guiavam os cristãos para continuar a prática de escravidão. Infelizmente, a aparente prática de aprovação tácita da escravidão de Jesus é obscurecida pela versão revisada e autorizada do Novo Testamento de uma tradição grega da palavra “doulos” como “servo” Por exemplo, na Versão Revisada Padrão, Jesus diz que o servo é como seu mestre (Mateus 10:25). Uma tradução mais exata seria que um escravo é como seu mestre.
 _________

 Fonte: Trecho do capítulo Christian Ethics, do livro The Case Against Christianity, escrito por Michael Martin (*)Reirado do “Biblical Arguments for Slavery,” em Free Inquiry 7 (Spring 1987): 30.

domingo, 27 de março de 2016

Deus, uma hipótese improvável

Publicado originalmente no blog Bule Voador

Estima-se algo em torno de 8,7 milhões de espécies habitando atualmente o planeta. Também tem sido descobertas cerca de 15.000 novas espécies novas a cada ano. Isso sem falar no total de espécies já existentes em toda a história dos 4,5 bilhões de anos do planeta, que deve beirar na faixa dos 5 bilhões. Lá fora, no cosmos, os números são ainda mais impressionantes: Só na nossa galáxia, a via láctea, estima-se existir 100 bilhões de planetas. Estimativas tímidas sugerem algo em torno de 200 bilhões de galáxias no universo, que podem conter alguns 17 bilhões de planetas semelhantes à Terra (sem mencionar os outros bilhões de planetas não rochosos, do tipo Júpiter, que abundam o Universo). Até onde sabemos, há apenas uma única espécie que desenvolveu habilidade cognitiva de perscrutar criticamente o ambiente em que vive. Em nosso planeta nós somos a única espécie capaz disso.

No meio dessa monstruosidade de números, alguns — com arrogância ou medo da solidão cósmica –, alegam que há alguma entidade responsável pela criação dos mundos e das espécies. Mais estranho ainda, que esta entidade de alguma forma se preocupa com os interesses humanos. O que não deixa de ser curioso é justamente a correlação existente entre a espécie que desenvolveu raciocínio e um dos seus sub-produtos culturais mais populares: A existência de Deuses. Uma das dificuldades em sustentar essa crença é a tentativa de inserir qualidades aos Deuses que são comportamentos e vontades flagrantemente humanas. Quando alguém atribui consciência, preocupação moral, inteligência, criatividade e poder de criação (especialmente criação de seres à “imagem e semelhança” de Deus) está antropomorfizando e antropocentrizando a suposta entidade. Não há nenhuma novidade nisso, já que reflete coisas como o que Xenófanes já percebeu há mais de 2.000 anos: “Se os bois e os cavalos tivessem mãos e pudessem pintar e produzir obras de arte similares às do homem, os cavalos pintariam os deuses sob forma de cavalos e os bois pitariam os deuses sob forma de bois.”

Este é um dos problemas: Dedicar importância excessiva a atributos relacionados a uma espécie que representa uma fração muitíssimo pequena de todo o universo não é a melhor estratégia para mostrar plausibilidade de uma entidade teísta. Como já dito, somos apenas uma espécie das 5 bilhões que já existiram em um planeta num universo que pode existir outros 17 bilhões de planetas parecidos. Disso se segue que as suposições antropomórficas e antropocêntricas são, com elevada probabilidade, possivelmente falsas. Em miúdos: Só há um tipo de inteligência que tivemos acesso até hoje, a inteligência humana. Logo, há uma grande chance de que a criação de deuses seja um produto dessa inteligência.

No que diz respeito a influência de Deus no mundo, encontra-se no imaginário popular a ideia de que “ele sabe o que faz”. Para ilustrar o quanto o senso comum muitas vezes só reproduz crenças preguiçosas, tomemos o exemplo de um recente desastre natural. No estado de São Paulo, o recente deslizamento já ceifou a vida de 16 pessoas, além de causar sofrimento humano e material em habitantes de várias cidades. A pergunta é: Sabe Deus o que faz? Há algumas maneiras de tentar explorar com mais claridade essa pergunta, como: Ele sabe por que foi ele quem o fez? Ou apenas sabe e não faz nada para impedir? Ou tenta fazer algo e não consegue? Ora, se ele causou o desastre, então não é benevolente. No entanto, se ele não causou, mas apenas tem conhecimento do ocorrido, então não fez nada para impedir. Logo, não é onipotente. Se ele tentou evitar mas não conseguiu também não é onipotente. Ou ele não sabe? Então não é onisciente. Então por qual razão chamá-lo de Deus?

É possível articular algumas respostas para as questões anteriores, muito embora nem sempre o teísta que apenas repete ideias do senso comum as apresente. Uma delas é a que se segue. Deus possui todos os atributos (como benevolência, onipotência, onisciência, onipresença), mas abre mão conscientemente e temporariamente de alguns deles para que, sob a ação do mal, os humanos possam mostrar o melhor de si. Entretanto, isso ainda traria outros problemas, já que não é óbvio que a existência do mal incremente a existência do bem e não responde sobre a incompatibilidade dos atributos.

Para muitos, a ideia de um Deus é uma crença psicologicamente agradável. Apesar de toda a insistência e ligação emocional com a hipótese da existência de Deuses, a possibilidade dessa(s) entidade (s) não parece plausível. E uma vez concluindo isso, e se é com a verdade que estamos comprometidos, não é pelo fato de uma crença ser emocionalmente confortante que ela deve ser mantida.

Ceticismo sobre a ressureição


1. Uma alegação de milagre é inicialmente improvável em relação ao nosso conhecimento prévio;
2. Se a alegação é inicialmente improvável em relação ao nosso conhecimento prévio e as evidências para ela não são fortes, então não deve ser acreditado;
3. A ressurreição de Jesus é uma alegação de milagre;
4. A evidência para a ressurreição não é forte;
-----
Portanto, a ressurreição de Jesus não deve ser acreditada.
Enquanto que a premissa 2 é auto-evidente, e a premissa 3 é uma definição, as premissas 1 e 4 são as que requerem justificações.
*Premissa 1: A probabilidade inicial das alegações miraculosas
Por que supor que a ressurreição, como uma reivindicação milagre, inicialmente é improvável? Tradicionalmente um milagre é definido como uma violação de uma lei da natureza causada pela intervenção de Deus. A improbabilidade de milagre no sentido tradicional pode ser entendidos da seguinte forma. Para o bem do argumento, suponhamos que o teísmo, a crença na existência de Deus, é verdade. Então podemos esperar uma intervenção de Deus curso natural dos acontecimentos de forma a violar uma lei natural? Nós não podemos. Se o teísmo é verdade, então milagres no sentido de uma intervenção divina são possíveis, uma vez que há um ser sobrenatural que poderia fazê-los, mas isso não quer dizer que tais milagres são mais propensos de ocorrer do que não ocorrer. De fato, Deus teria boas razões por nunca utilizar milagres para alcançar seus propósitos. Deve-se considerar que este tipo de milagre não pode ser explicado pela ciência e, na verdade, é um impedimento para uma compreensão científica do mundo. Considere também que grandes dificuldades e controvérsias surgem em identificação de milagres. Seja qual for os bons efeitos que os milagres possam ter, eles também impedem, enganam e confundem. Uma vez que um Deus todo- poderoso parece ser capaz de alcançar seus propósitos de maneiras que não têm efeitos infelizes, concluo que há realmente motivo para supor que a existência de milagres é inicialmente improvável mesmo em uma visão religiosa do mundo.
[...]
Vamos supor que é provável que Deus faria sacrificar seu filho para a redenção da humanidade. Ainda não se seguiria que a encarnação e a ressurreição são eles próprios prováveis, pois estes eventos aconteceram em um tempo e local particular. No entanto, Deus poderia ter encarnado e morrido pelos pecadores em um número indefinido de outras ocasiões.
Não parece haver qualquer razão a priori para supor que ele teria encarnado, ou tivesse morrido, em um tempo e local particular em detrimento de outros tempos e lugares e em diversas outras maneiras. Consequentemente, mesmo que alguma encarnação ou ressurreição seja provável, não há uma razão a priori para supor que ele teria encarnado e morrido como Jesus no primeiro século da Palestina em uma cruz e ressuscitado em relativa obscuridade. Na verdade, dada as inúmeras alternativas à disposição de Deus, parece improvável que a encarnação e a ressurreição teriam acontecido no local e tempo onde supostamente aconteceu.
*Premissa 4: A insuficiência generalizada das evidências
O corpo de Jesus ressuscitado foi supostamente transformado em um corpo sobrenatural vivo. Sendo assim, todas as declarações a seguir devem ser verdadeiras:

1. Jesus é incapaz de ser ferido a qualquer momento após 33 d.C.
2. Jesus é incapaz de morrer a qualquer momento após 33 d.C.
3. Jesus é incapaz de envelhecer a qualquer momento após 33 d.C.
4. Jesus é incapaz de estar doente a qualquer momento após 33 d.C.
5. Jesus é capaz de se mover à vontade instantaneamente de um lugar para outro a qualquer momento depois de 33 d.C.
6. Jesus é capaz de atravessar paredes em qualquer momento após 33 d.C.
Vamos chamar de Jesus sendo trazido de volta à vida com esses atributos de sentido forte da ressurreição, e sendo trazido de volta à vida sem atributos sobrenaturais de sentido fraco da ressurreição. A maioria das evidências citadas para a ressurreição de Jesus, mesmo que esteja livre de outros problemas, não dá suporte à ressurreição no sentido forte. Por exemplo, a alegação do túmulo vazio, a conduta dos discípulos, muitos das pós-aparições da ressurreição e a ascensão do cristianismo, no máximo suportam a ressurreição no sentido fraco. Na verdade, as únicas provas relevantes que podem sustentar alguma versão da ressurreição no sentido forte parece ser as descrições de aparições do Jesus ressuscitado em que é dito que ele teria manifestado habilidades sobrenaturais em algum tempo e lugar particular.
Isto significa que todo o ônus para a afirmação de que Jesus ressuscitou no sentido forte sentido repousa sobre estas poucas descrições. Mas, mesmo que tais descrições são precisas, a ressurreição de Jesus no sentido forte não estaria comprovada. Por exemplo, suponha que um tenha razão para acreditar que Jesus não foi ferido por algum evento que ferido seus discípulos. Isso não seria suficiente para suportar a declaração (1) [Jesus é incapaz de ser ferido a qualquer momento após 33 d.C.]. Para satisfazer, alguém só poderia inferir essa conclusão ou a partir de uma teoria geral e bem aceita ou mostrar evidências que Jesus não foi ferido em uma gama de outras circunstâncias após 33 d.C. Mas nenhuma teoria está disponível, e os tipos de provas necessárias estão em falta.
[...]
A probabilidade de ressurreição é inicialmente baixa. Embora Deus poderia fazer milagres, não há razão para supor que no máximo ele iria fazê-lo raramente. Mesmo que alguém assuma que Deus fizesse uso de um milagre para salvar a humanidade, há muitas outras maneiras ele poderia fazer isso sem sacrificar seu filho e ressuscitá-lo. Além disso, mesmo se ele escolheu a encarnação, morte e ressurreição, não há nenhuma razão para pensar que deveriam ser no lugar e tempo onde supostamente aconteceu.
Desde a ressurreição é improvável, a evidência para ela deveria ser muito forte, mas não é. Alegadamente, Jesus foi ressuscitado no sentido forte, isto é, trouxe de volta à vida transformada em um ser com os atributos sobrenaturais. Contudo, a evidência de costume citada, por exemplo, o túmulo vazio, é irrelevante para o estabelecimento que Jesus tinha esses atributos. Além disso, o tipo de prova que é necessário é indisponível. Além disso, mesmo se assumirmos que Jesus ressuscitou no sentido fraco, a prova não é forte o suficiente para superar a improbabilidade inicial.
[...]
Se a ressurreição realmente ocorreu, Deus não seria incerto que fez: Teria feito como um evento para além da dúvida racional. Um argumento semelhante é dado por J. L. Schellenberg (1993), que alega que a existência de descrença razoável é evidência contra a existência de Deus. Portanto, a grande importância teológica da ressurreição é incompatível com a sua incerteza epistêmica.
[Livre tradução do artigo "Skeptical Perspectives on Jesus ’ Resurrection", Micahel Martin in The Blackwell Companion to Jesus -Wiley-Blackwell (2010)]

domingo, 24 de janeiro de 2016

Reflexão sobre racismo: Contextos e bonecos

 Originalmente publicado no blog Bule Voador.


Bonecos da empresa Paladone
 
Uma empresa britânica confeccionou bonecos com penteados de variados estilos, todos eles projetados para limpar louça. São personagens masculinos e femininos que apresentam diferentes características, algumas relacionadas à cor da pele e à cultura pop de décadas atrás. Se consultarmos a linha completa do fabricante, encontraremos a representação de mulheres e homens, brancos e negros, rainhas e membros da guarda real inglesa, e também dançarinos de discotecas, cada qual inserido em seu estilo peculiar. Porém, quando telespectadores do programa Big Brother Brasil 16 flagraram o boneco negro, de penteado black power, exibido na cozinha como utensílio de limpeza que desempenharia a mesma função que uma “bucha de prato”, milhares de pessoas entenderam que aquele momento se configurou como racismo, em mais um dos lamentáveis episódios desse problema em nosso país. Entretanto quando alegam que a imagem do boneco afro possui teor racista, o que exatamente querem dizer? Que o fabricante é racista? Que o consumidor é racista? Ou que, simplesmente, quem não viu maldade naquilo também é racista? A princípio, a hipótese de que a empresa responsável pela criação dos bonecos seja racista me parece um equívoco, pois se ela tivesse a finalidade de degradar os negros, certamente não encontraríamos referência a diferentes culturas musicais, incluindo black music e rock in roll, na linha de bonecos fabricados.

Como não tenho visto muitos argumentos sendo defendidos de modo pacífico, tentarei elaborar ideias equilibradas com base nos comentários que circularam nas redes sociais. Não simpatizo muito com a estratégia do binarismo em tudo o que ocorre no mundo (é ou não é racismo), mas, em nome da claridade de pensamento, talvez eu acabe fazendo isso em um momento ou outro.

Entendo o racismo como sendo discriminação baseada nas características fenotípicas de um indivíduo. Já a discriminação, entendo ser a crença de que determinada pessoa detém caracteres físicos, morais ou intelectuais que a colocam em uma situação de inferioridade.

Um argumento bastante utilizado pode ser posto da seguinte forma: Se a exposição do boneco deixa alguém desconfortável, trata-se de uma exposição racista. O boneco causou desconforto a alguém, logo, sua exposição é racista.

O que se segue é o seguinte: Como objeto manufaturado, concedo que o boneco tenha causado desconforto a algumas pessoas. Meu problema é com a primeira premissa. Afirmar que algo causa desconforto a alguém não estabelece as condições necessárias e suficientes para definirmos o racismo. Talvez, devo admitir, isso seja uma condição facilitadora porque o desgosto da pessoa negra sugere (mas não encerra o debate) que há algo de errado na exposição do boneco. Porém, defender que toda sensação de desgosto é sinônimo de discriminação é alargar, ou até mesmo banalizar, o conceito de discriminação. É por isso que não está em causa o direito de nos sentirmos ofendidos. O que está em causa é que, uma vez que uma pessoa se sinta ofendida diante do boneco, isso não estabelece, automaticamente, um caso de racismo. Para chegarmos a uma conclusão desse nível, precisaríamos de informações mais específicas e concretas além de “achei ofensivo” ou “eu não gostei”.

Pode ser estranho, e quem sabe até constrangedor, que alguém não goste da representação estética do cabelo black power ilustrado no boneco. Mas, ainda assim, tal manifestação poderia ser interpretada como um tipo de preferência para estilos de penteado, e não um juízo de valor contra a pele negra. Não existe equivalência entre uma predileção estética e um juízo de valor moral, que pode ser discriminatório ou não. De fato, esta é uma confusão recorrente que, com frequência, cometemos em reflexões apressadas.

Em outro caso, aqueles que aprovam a venda e o uso do boneco não devem ser considerados, automaticamente, racistas. Algumas pessoas poderiam destinar o uso do boneco de forma inofensiva, como decoração ou limpeza (a menos que considerem limpar a casa ou lavar a louça como uma prática desonrosa); outras fariam referências discriminatórias contra o cabelo afro, como se cabelo crespo, mais comum aos negros, fosse ruim, e cabelo liso, mais comum aos brancos, fosse bom. Ocorre, no entanto, que a alegação de “gosto pessoal para cabelos” nem sempre serve de informação para acusar alguém de estar sendo racista ou preconceituoso, caso contrário estaríamos diante de uma espécie de Minority Report: É acusatório na medida em que presume a culpa, e o faz com evidências parcas.
Mas não nego que contexto do boneco afro tem certa relevância para o debate. Só que importa pouco se o tomarmos de forma apressada e persecutória. Observe a seguinte pergunta: É razoável acusar João de racismo só porque ele não sente atração sexual por mulheres negras? A resposta é que precisamos, no mínimo, conceder que não desfrutar de sexo com mulheres negras seja algo que João tem em comum com os racistas. Entretanto, ele não se torna, compulsoriamente, racista por causa disso. Em casos assim, é necessário refletir antes de acusar João de racismo, porque i) não temos acesso aos estados mentais do que ele verdadeiramente sente ou pensa sobre sua atração física por mulheres; ii) se for para falhar em nosso julgamento, é preferível fazê-lo com generosidade interpretativa, e não existe nenhuma generosidade em apontar o dedo contra uma pessoa e acusá-la de ser preconceituosa, quando não temos as evidências capazes de suportar nossas acusações.

Entretanto, existe um cenário mais evidente e consensual de racismo em relação ao boneco: A alegação consciente de que cabelo black power é ruim e só serve para substituir o bombril. Assim, o que está em causa é que o boneco com um penteado black power acaba sendo usado, infelizmente, como um símbolo de racismo e discriminação contra negros, embora ele não tenha sido fabricado com este propósito. Isso porque interpretação de uma coisa não é igual a essa coisa. E se começarmos a impedir que qualquer coisa com interpretação dúbia seja tolhida a preocupação pela isonomia de direitos se perde num vácuo de autoritarismo.

Um cenário menos evidente é reconhecer que racismo nem sempre é intencional. É possível que pessoas sejam racistas e preconceituosas sem sequer perceber, ou sem más intenções. Por exemplo: vê-se com frequência, em dados estatísticos, que os brancos são mais profissionalmente capacitados que os negros; então, ao receber dois currículos idênticos de um candidato branco e um negro, a empresa, com base no que apontam essas estatísticas, resolve contratar o indivíduo branco. É defensável que, nessa situação, haja indícios de racismo não intencional, ou até intencional. Isso nos leva a um problema controverso que vem sendo muito estudado, chamado viés implícito, que significa que os membros de um grupo “oprimido” também são capazes de serem preconceituosos.

Pode ser o caso que tenha sido uma má escolha o uso do boneco em um programa televisivo. O que está em causa aqui é que racismo é um mal objetivo e tratá-lo com hipersensibilidade acusatória é ceder a uma estratégia que extrapola o conceito. É necessário reforçar que possibilidade não é certeza, e é prudente usar um freio quando a dúvida não dá margem segura para estabelecer confiança em certas acusações. Daí podemos concluir: existem poucos dados objetivos para acusar os fabricantes, ou os consumidores dos bonecos afro, de racistas. Também não é possível concluir que quem simpatizou com os bonecos seja racista. Por mais que uma parcela de pessoas de um grupo historicamente oprimido se sinta ofendido com o boneco (houve negros que gostaram), não significa que um apontar de dedo acusando os outros de racismo resolverá o problema.

Autores: Cícero Escobar e Ricardo Silas.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Os melhores filmes que eu vi em 2015

Como de praxe dos últimos anos, divulgo aqui minha lista dos filmes vistos com suas respectivas cotações. Em conjunto, segue a lista dos melhores filmes com estreias comercias em 2015. Neste ano, foram 251 filmes vistos. Isso equivale a cerca da metade do ano passado. Várias razões comutam para esse decréscimo; ainda assim, é uma quantidade razoável para um cinéfilo ainda em formação e para uma pessoa que tem outras obrigações diárias (um doutorado em curso, por exemplo). Segue a lista dos 10 melhores (em ordem crescente de preferência).



10.Mapa para as estrelas (David Cronenberg)

A acidez do Cronenberg ataca os superlativos da megalomania de Hollywood. Muitas de suas estrelas são detentoras de um brilho falso ou moralidade dúbia. Prato cheio para o cineasta.









9. Acima das nuvens (Olivier Assayas)

Assayas consegue extrair o melhor da recorrente apática Kristen Stewart, numa parceia com a ótima Julitte Binoche.








8. Divertida mente (Pete Docter)

Animação que não despreza intelectualmente seu público, não é apenas recheado de personagens "fofinhos" como também nos brinda ótimas reflexões sobre o papel da tristeza como sendo inevitável e até mesmo saudável.








7. 45 (Andrew Haigh)

Tocante e sensível história contada pelo Haigh. É como se o casal do filme (Charlotte Rampling está maravilhosa) conseguisse a proeza hercúlea de condensar todas nossas imperfeições e aspirações que rodam um longo relacionamento amoroso. 









6. Corrente do mal (David Robert Mitchell)

Hábil em usar um som estridente em uma história que, apesar de não original, é sagazmente conduzida. A velha receita de não explicar tudo parece ter sido bem entendida pelo Mitchell.



 5. Branco sai, preto fica (Ardiley Queirós)


Brasília: Só entra quem possui um passaporte exclusivo. Uma ficção distópica que não precisa de estrondosos efeitos especiais para mostrar a força do seu argumento.







 4. Que horas ela volta? (Anna Muylaert)

Embora simples, o conteúdo do filme de Muylaert (até então uma cineasta com filmes medianos e ruins) consegue condensar anos de um pensamento típico da classe média brasileira.









3. Mad Max - a estrada da fúria (George Miller)

Além da diversão com ritmo frenético, fica a mensagem: Que Hollywood tenha aprendido o recado para atualizar a qualidade de seus blockbusters. Ninguém deseja homogeneidade de filmes. Mas se for para escolher, que seja realizado mais produções tipo "Mad Max" do que tipo "Transformers".




2. Últimas conversas (Eduardo Coutinho)

Sensível até o último minuto, o calor humano nas entrevistas do Coutinho deixam uma marca já saudosa na cimatografia nacional. 

1. Carol (Todd Haynes)

Uma tímida obra-prima que nasce das mãos do Haynes. Serve não apenas como um documento histórico, mas também como um manifesto de amor.








Alguns outros filmes dignos de atenção: Amor, plástico e barulho; Coração de ferro; Casa grande; Sicario; Mia Madre; O Expresso do Amanhã; Ex Machina; Vício inerente; Cássia Eller e Ponte dos espiões.

Sobe os filmes nacionais, 2015 também foi um ótimo ano. Embora muitos ainda estão para estrear, e outros eu tenha perdido, não deixa de ser evidente a qualidade dos filmes. E isso fica evidente ao constatar que há 3 filmes nacionais na lista dos meus favoritos. Mas há outras produções dignas de atenção: Depois da Chuva, Amor Plástico e Barulho, Casa Grande e Cássia Eller. Apesar disso, justiça seja feita, algumas produções que não gostei: Ventos de Agosto, O senhor do labirinto e Permanência. Além disso, há inúmeras outras que ainda não pude checar, como:  Entre Abelhas, 
A História da Eternidade, A vida privada dos hipopótamos e A estrada 47. Isso tudo só mostra a diversidade dos filmes produzido nesses últimos anos, como já comentei aqui, aqui e aqui.


E a lista mais divertida é um tanto curta. Selecionei 3 filmes horrorosos deste ano (em ordem crescente de desgosto).

3. Chappie (Neill Blomkamp)

Ao término do filme ficou a pergunta: Será que o Blomkamp vai seguir o trágico caminho dos pequenos gênios que inciam a carreira de maneira maravilhosa (Distrito 9) e depois vai tombando sucessivamente a cada novo filme (Vide o M . Night Shyamalan)? Embora comentam as boas línguas que seu recente filme (A visita) traz de volta o melhor do cineasta -- ainda estou para ver). Triste é que Blomkamp assumirá a direção do novo filme da franquia Alien (por ora suspensa). Ou será sua redenção, ou ganhará o ódio infinito de uma geração de fanboys (o qual me incluo).


2. Cinquenta tons de cinza

Ouvi alguém dizendo outro dia: O único problema do filme é que ele começou.
Como todo filme ruim, há algo de pedagógico nele: O que não fazer com personagens para torná-los tão enfadonhos.


1. O exterminador do futuro - gênesis

Dizem ser uma obra de ficção-científica. Eu ri o filme todo.


Finalmente, segue a lista de todos os filmes vistos em 2015.


* péssimo
** regular
*** bom
**** ótimo
***** obra-prima
______________________________________________________________
1 O caso dos irmãos nave ****
2 Dossiê Jango ****
3 Tim Maia ***
4 Big Hero ***
5 Uma noite no museu 3 **
6 Carnaval No Fogo ***
7 A besta humana *****
8 O corintiano ***
9 Whiplash - em busca da perfeição ***
10 Além das nuvens *****
11 Irma Vep ****
12 Out-Takes from the Life of a Happy Man ****
13 O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy **
14 O grande hotel Budapeste ***
15 Amantes eternos ****
16 O passado ****
17 Ida ***
18 Livre ***
19 Amor, plástico e barulho ****
20 O impossível **
21 Eu matei minha mãe **
22 Apenas o fim ***
23 Tudo que Deus criou ***
24 O grande mestre ***
25 9 canções **
26 A teoria de tudo ***
27 O dia em que Dorival encarou a guarda ***
28 A casa elétrica **
29 Birdman - ou a improvável virtude da ignorância ***
30 Procurando Elly *****
31 Rastros de ódio *****
32 No tempo das diligências ****
33 Por um punhado de dólares ***
34 Coração de ferro ****
35 O jogo da imitação ***
36 O homem que matou Facínora *****
37 Eu Não Faço A Menor Ideia Do Que Eu To Fazendo Com A Minha Vida **
38 Europa 51 *****
39 50 tons de cinza *
40 O caso Mattei ***
41 Saw 0.5 **
42 Sobrenatural ***
43 30 anos esta noite *****
44 Sniper Americano ***
45 Depois da chuva ****
46 O nascimento de uma nação ****
47 The Girl and Her Trust  ***
48 The Musketeers of Pig Alley  **
49 Jardim Europa ***
50 Era Uma Vez no Oeste *****
51 Para sempre Alice ***
52 Mapa para as estrelas ****
53 Terra tranquila **
54 A entidade ***
55 A secretária ***
56 Violette ***
57 Um Punhado de Bravos ****
58 O sétimo filho *
59 O Intrépido General Custer ***
60 O ídolo do público ***
61 Heróis esquecidos ***
62 A lista **
63 Aquele querido mês de Agosto ****
64 Contos de Nova York  ***
65 Histórias reais ***
66 Spring Breakers - Garotas Perigosas ****
67 O Amor é Estranho ****
68 Museum Hours ****
69 Caçador **
70 Quarto vazio ***
71 Na hora dos morcegos **
72 Pele de concreto **
73 O corpo ***
74 Branco sai, preto fica *****
75 Eu sei que vou te amar ***
76 O senhor do labirinto **
77 Trash Humpers ***
78 Mar negro ***
79 Onde jaz o teu sorriso? ****
80 A minha avó ****
81 Apenas um dia **
82 Femmes femmes ****
83 Força maior ****
84 Noites brancas no píer ***
85 Amor bandido ****
86 Casa grande ****
87 O olhar invisível **
88 Dragões da violência ***
89 No decurso do tempo ****
90 A música de Gion ****
91 Tokyo Ga ****
92 Ventos de Agosto **
93 A letra escarlate ****
94 Desejos profanos ****
95 Oharu - a vida de uma cortesã *****
96 O estado das coisas ****
97 De volta ao quarto 666 ***
98 O intendente Sansho *****
99 Deste lado da ressureição **
100 Paris, Texas ****
101 Hotel das Américas ***
102 Os amantes crucificados ****
103 O desejo da minha alma ***
104 As Irmãs Brontë ***
105 Rendez-vous ***
106 Mad Max - a estrada da fúria ****
107 Um filme para Nick ****
108 Pina ***
109 O mundo segundo a Monsanto **
110 Outer space ***
111 L`arrivée **
112 Ballet 16 **
113 Nocturne ***
114 Shot - Countershort **
115 Porto das caixas ***
116 Arraial do cabo ***
117 Capitalismo - uma história de amor ***
118 Aruanda ****
119 Garganta profunda *
120 Psicose *****
121 Snuff - Vítimas do prazer ****
122 Permanência ****
123 Singularidades de uma rapariga Loura *****
124 Últimas conversas *****
125 Top girl ou a deformação profissional ****
126 Planeta fantástico ****
127 Bem perto de Buenos Aires ***
128 O lobo atrás da porta *****
129 Almas silenciosas **
130 Os Advogados Contra a Ditadura: Por uma questão de justiça ***
131 Cala a boca, Philip ***
132 Divertida mente ****
133  O Exterminador do Futuro: Gênesis **
134 A máscara de Satã ***
135 A Mulher Que Inventou o Amor ****
136 Lilian M: Relatório Confidencial  ****
137 Longe deste insensato mundo ***
138 Multiple Maniacs ****
139 War of the Satellites  **
140 Noite em chamas ***
141 Fuk Fuk à Brasileira **
142 A caça ****
143 Ana e os lobos ****
144 The playhouse **
145 Ainda estamos aqui ***
146 Trem das sombras ***
147 O que fazemos nas sombras ****
148 Pride ***
149 Até o vento tem medo ***
150 Veneno para as fadas ****
151 Phoenix ****
152 A hora final ****
153 O pagamento final *****
154 Fuga de Los Angeles ***
155 Enigma do poder ***
156 We are the best ***
157 O dia em que a Terra parou ****
158 É proibido fumar **
159 Minhas tardes com Margueritte **
160 Como era verde o meu vale ****
161 O expresso do amanhã ****
162 Bruno **
163 Problemas femininos ***
164 Meu ódio será tua herança ****
165 Corrente do mal ***
166 Memórias de um assassino *****
167 Willow Springs ***
168 Queimada! ****
169 Crônicas de um industrial ****
170 O hospedeiro ***
171 Re-animator ***
172 Tudo Vai Dar Certo ***
173 Hotel Rwanda ***
174 Tierra ***
175 Banho de sange ***
176 Going Clear Scientology and the Prison of Belief ***
177 Ex Machina ***
178 Cães Raivosos ***
179 Facismo ordinário ****
180 Premonição ***
181 O triunfo da vontade ***
182 Terror nas trevas ***
183 Um toque de pecado ****
184 Ser ou não ser ****
185 Assuntina das Américas ***
186 O tenente sedutor ****
187 Que horas ela volta? *****
188 Cássia Eller ****
189 Sicario ****
190 Black Mass ****
191 Missão impossível - nação secreta ***
192 À beira da loucura ***
193 A pele de Vênus ***
194 A memória que me contam ***
195 O que é isso companheiro ***
196 A lista de Schindler ****
197 Proibido! ****
198 O julgamento de Nuremberg ****
199 Perdido em Marte ***
200 Em busca da vida ****
201 Também somos humanos ****
202 A colina escarlate ***
203 Quem matou Rosemary? **
204 Anjo ****
205 A outra ****
206 O beijo amargo ****
207 Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios ****
208 A revolução dos Bichos  ****
209 Desafio do além ****
210 Calafrios ***
211 007 contra Spectre ***
212 Kingsman - serviço secreto ***
213 Clube de compras Dallas ***
214 Édipo Rei ****
215 Os sonhadores ***
216 Paixões que alucinam ****
217 Freaks ***
218 La Maison Ensorcelée  ****
219 La barba rebelde ***
220 Satán se divierte ***
221 Cinderella **
222 La Lune à un mètre ***
223 O homem com a cabeça de borracha ****
224 Vacas ***
225 Fome animal ***
226 Jogos Vorazes: A Esperança - O Final ***
227 Trash - náusea total **
228 A batalha de Argel ****
229 Agonia e Glória ****
230 Ponte dos Espiões ****
231 Eu fui a secretária de Hitler  ***
232 Darth marathon ***
233 The Adventures of Dollie ****
234 One week ***
235 A diary of a teenage girls ***
236 Redentor ***
237 Arquitetura da destruição ***
238 45 ****
239 O eterno judeu **
240 Ninotchka ****
241 Minha noite com ela  *****
242 A Padeira do Bairro ****
243 Chappie **
244 O cheiro da gente ***
245 The Village  ***
246 Quando o dia nasce ***
247 La sapienza ***
248 Carol *****
249 Marché aux boeufs  ***
250 The dancing skeleton ***
251 Mia Madre ****