sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Há vida alienígena por perto?

 [Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil - Bule Voador]

Vida extraterrestre pode estar aparecendo em alguns lugares óbvios. Não, isto não é sobre alienígenas sem pelos que vieram para a Terra em embarcações em forma de disco, mas é sobre  vida menos sofisticada não muito longe daqui.

Sonda Curiosity
Um século atrás, cientistas acreditavam que havia apenas um óbvio reduto para existência de biologia alienígena em nosso sistema solar: Marte. Por ter algumas semelhanças com a Terra, se pensou que Marte estivesse lotado de seres animados, e seus supostos habitantes tiveram bastante espaço na mídia. Se assumia geralmente que os residentes do planeta vermelho fossem semelhante a nós: em tamanho, em tecnologia e em conhecimento. Em 1900, o astrônomo Percival Lowell estava obcecado com a ideia de que havia uma intrincada rede de canais na superfície marciana, vendo-a como obra de alienígenas desesperadamente tentando irrigar um mundo seco.

Entretanto, a ideia de habitantes sofisticados caiu em desuso (entre cientistas, e mesmo até entre cineastas), uma vez que nossas sondas revelaram que as paisagens de Marte  são desertos dessecados, eficientemente esterilizado pela mortífera luz ultravioleta do Sol. Dizer que a superfície era inóspita seria um eufemismo. Ainda assim, era possível que micróbios marcianos pudessem estar morando a poucas centenas de metros de profundidade onde aquíferos poderiam abrigar alguma espécie de vida contente em dar seus tiros no escuro.

Consequentemente, a opinião dos especialistas mudou. Nossa melhor chance para encontrar marcianos não era de se sentar atrás de um pequeno telescópio no Arizona, como fez Lowell, mas enviar furadeiras para Marte, que pudessem sugar a poeira abaixo da superfície e examiná-la microscopicamente. Obviamente essa é uma tarefa difícil. E ainda não foi realizada – e nem mesmo planejada em detalhes.

Marte continua ser a escolha número um da comunidade da astrobiologia para “a mais próxima rocha com vida”, mas há muitos pesquisadores que, ao invés, apostam suas fichas nas luas de Júpiter. Em particular, há evidências que Europa, Ganimedes e Calisto escondem vastos oceanos de água líquida sob suas crostas de gelo. Europa é o caso mais promissor, e tem a crosta mais fina. Com a tecnologia atual, a melhor forma de examinar o habitat aquático desta lua prevê uma sonda robótica que derreteria um buraco através de 15 quilômetros de gelo, duro como granito, e baixar alguns sensores para dar uma olhada. Mais uma vez, ainda não nas pranchetas.

De qualquer forma, a melhor abordagem para encontrar vida fora da Terra envolve perfuração a fundo - seja através de rocha ou gelo.

No entanto, as descobertas anunciadas na reunião da União Geofísica Americana realizada na primeira semana de Dezembro em São Francisco têm revisto o plano estratégico.

Considere Marte – um caso exemplar de inatividade geofísica, ou assim se pensava. Há muito se assumia que o planeta vermelho fosse tão inerte como um campônes medieval, mas um exame mais atento mostra que Marte é menos dormente do que se acreditava.

Sondas em órbita têm fotografado fenômenos que foram chamados de "listras escuras de declive", que se estendem descendo as laterais das paredes de crateras e de cânions. Essas manchas vigorosas têm a largura de uma sala, e crescem à medida que o sol e o verão elevam a temperatura da superfície. Às vezes se estendem um quilômetro ou mais,  e vem e vão conforme as estações. A explicação óbvia - e mais plausível - é que essas listras são causadas por gelos ricos em minérios, logo abaixo da superfície, derretendo no calor e molhando a superfície conforme descem as colinas.

Lembre-se, a ideia de que essas listras são de água salgada (que agraciavelmente tem um ponto de congelamento menor do que a água pura) é baseada em evidência circunstancial apenas. Imagens, em outras palavras. Mas se for verdade, sugere que a maneira mais rápida de encontrar marcianos poderia ser enviar um rover até essas listras, colher a terra molhada, e verificar se há micróbios que vivem nesta primavera marciana em miniatura. Não haveria então necessidade de um projeto de perfuração profunda: a vida pode estar lá para ser descoberta - em terra úmida. Uma  verdadeira virada de jogo.
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Concepção artística de Europa. Crédito: K. Retherford, Southwest Research Institute
A outra notícia diz respeito a Europa, a lua albina que orbita em torno de Júpiter. O telescópio Espacial Hubble descobriu uma nuvem do que parece ser um desmembrado de moléculas de água a cerca de cem quilômetros acima do polo sul de Europa. O cenário provável é que o líquido está sendo jorrado para o espaço a partir do oceano abaixo da superfície enquanto Júpiter puxa a crosta congelada de Europa . Os gêiseres parecem estar localizados em fendas no gelo na superfície.

Quase uma década atrás, o Hubble descobriu plumas aquosas jorradas de Encélado, uma lua de Saturno, de modo que este fenômeno não é novo. Mas Encélado é uma lua minúsculo, de modo que a água que jorra de sua pele frígida se dissipa no vácuo do espaço, e se esvai para sempre. Europa é um satélite mais robusto, e pode puxar o material disparado das fendas da região polar, que então volta a se acumular na superfície.

Consequentemente, se há alguma vida escondida nas águas Estigianas abaixo do exterior brilhante de Europa, então alguma representação da biologia pode estar simplesmente ali, aos montes, na paisagem gelada do polo sul.

É uma excelente notícia para a humanidade, ou pelo menos para a fração dela que se interessa em saber se há vida além de nosso planeta. Por anos, astrobiólogos vêm especulando sobre a possibilidade de encontrar qualquer pequeno animal em Marte ou Europa. Mas em nenhum dos casos havia razões para imaginar que provas poderiam ser encontradas nas superfícies destes mundos, facilmente ao alcance de nossos robôs. Isso agora mudou.
Carl Sagan uma vez disse que “em algum lugar, alguma coisa incrível está esperando para ser descoberta”. “Em algum lugar” pode bem ser um local de aterrissagem, à distância de uma curta viagem de foguete.
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Autor: Seth Shostak
Tradução: Cicero Escobar e Wladimir Freitas Lyra

Entendendo os mecanismos de formação de metano na Terra primitiva


                                     [Texto publicado Universo Racionalista]

Representação gráfica da Terra de 4 bilhões de anos atrás. Alguns pesquisadores defendem a tese que a Terra foi quase totalmente coberta de água; assim permitindo a diluição de compostos e permitindo a origem da Vida em hidrotermais.
Os compostos orgânicos são baseados na química do carbono. O metano (CH4) é o composto orgânico estável mais simples existente na natureza. Os cientistas acreditam que alguns cenários da Terra primitiva houvesse formação de metano mesmo na ausência de organismos. 

Sabemos atualmente que o metano é o produto de degradação de alguns microrganismos, mas também pode ser produzido por vias abióticas, ou seja, por processos geológicos. Uma possível rota (abiótica) de formação do metano é a partir da água (H2O) e hidrogênio (H2). A reação envolvida nessa caso seria do tipo Fischer-Tropsch (FT), sendo ser representada resumidamente pela equação: CO2 + 4H2 = CH4 + 2H2O. O que fica evidente é que, uma vez que tenha ocorrido a formação de hidrogênio - uma possibilidade é a partir da decomposição água através de fotoquímica causada por fonte de radiação ultravioleta (certamente mais intensa no período da Terra primitiva) - este reage com o dióxido de carbono presente no ambiente e forma metano. Simulações de hidrotermais em laboratório já demonstraram a possibilidade de reações desse tipo em temperaturas maiores que 200 °C [Fu e colaboradores, 2007]

Um exemplo de fonte hidrotermal atual emitindo dióxido de carbono. Localizado aos arredores do vulcão submarino Eifuku (Japão).
Nos últimos anos têm sido proposto novas possibilidades de geração de metano por via abiótica, como as que envolvem baixas temperaturas (menor que 150 °C). Cálculos termodinâmicos têm apoiado essa hipótese, e se baseiam em processos de hidratação desde que exista uma fonte de carbono. Estudos envolvendo minerais como olivina têm sido promissores para essa rota de obtenção de metano abiótico [Oze & Sharma, 2005]. Ao contrário das reações do tipo FT, esse tipo de processo não requer moléculas de hidrogênio presentes no ambiente para a geração de metano [Suba e colaboradores, 2014].

No recente trabalho desenvolvido por Suda e colaboradores, foi realizada uma comparação de diferentes amostras coletadas em locais distintos da fonte hidrotermal Hakuba Happo (Japão). Nessa região há a formação de serpentinita (constituída por olivina), uma rocha que resulta de processos geoquímicos. Essas hidrotermais são consideradas modelos de ambientes pré-bióticos, nos quais puderam ter ocorrido síntese de material orgânico há bilhões de anos atrás.

A novidade da pesquisa realizada por Suda e colaboradores é lançar luz sobre os prováveis mecanismos de formação abiótica do metano em sistemas hidrotermais. Segundo o pesquisador do instituto de tecnologia de Tóquio, os detalhes desse processo ainda não tinham sido satisfatoriamente compreendidos.

Em síntese, o que os pequisadores fizeram foi medir o pH e temperatura, bem como o conteúdo de gás e de íons das amostras de água tanto em termos de concentração e proporção de diferentes isótopos dos constituintes químicos (diferentes isótopos do mesmo elemento químico diferem-se quanto oo número de neutros no núcleo). Cada reação resulta uma razão isotópica diferente porque a taxa de reação de cada isótopo é diferente dependendo do processo.

A maneira mais convencional de discriminar a origem do metano é através da razão isotópico dos átomos presentes no hidrogênio, metano e água. Estudos prévios mostram que há uma faixa na qual pode-se inferir se o foi metano produzido a partir de fixação do dióxido de carbono na água (ou seja, reação do tipo FT). Assim, através de uma série de caracterização isotópica de regiões distintas da fonte hidrotermal Hakuba Happo, o grupo de pesquisadores descobriram valores inesperados para a relação entre diferentes isótopos do metano e hidrogênio molecular dissolvido na água.

A conclusão geral dos investigadores é de que a provável que a fonte de metano seja a partir da água e não do hidrogênio. Assim, isso aponta para um mecanismo de hidratação da olivina em detrimento de reações de FT. Ainda assim, os autores reconhecem a necessidade de estudos experimentais com baixas temperaturas para suportar suas hipóteses. 

Vale salientar que a produção abiótica de metano através de reações de hidratação pode ser um dos mecanismos no qual esse hidrocarboneto é gerado em Marte. Recentes trabalhos [Oze & Sharma, 2005] apontam para a existência de metano no planeta vermelho, e embora alguns defendam a tese que isso pode ser uma evidência indireta da presença de microrganismos, o debate sobre o assunto ainda não está encerrado; assim, entender melhor os mecanismos de formação abiótica do metano auxilia não apenas para entender os possíveis caminhos de formação das moléculas orgânicas na Terra primitiva, mas também lança luz sobre a possibilidade dessas mesmas moléculas surgirem na superfície de outros ambientes rochosos espelhados pelo sistema solar.

Referências

- Artigo  principal

Suba, K. et al, Origin of methane in serpentinite-hosted hydrothermal systems: The CH4–H2–H2O hydrogen isotope systematics of the Hakuba Happo hot spring. Earth and Planetary Sci Letters, 386 (2014):112–125

- Artigos Auxiliares

Fu, Q. et al, Abiotic formation of hydrocarbons under hydrothermal conditions: constraints from chemical and isotope data Feochim. Cosmochim. Acta, 71 (2007): 1982–1998

Oze, C.; Sharma, M. et al, Have olivine, will gas: Serpentinization and the abiogenic production of methane on Mars Geophys. Res. Lett., 32 (2005):276-299

- Na mídia

Science Daily


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Memória da água e coisas que os homeopatas não dizem

Estudar o processo histórico das atuais chamadas práticas complementares da medicina pode auxiliar no entendimento de como elas ainda se mantêm populares. 

Pouco antes de eclodir a segunda guerra mundial a homeopatia estava relativamente esquecida na Europa. Foi nessa época que os conselheiros médicos de Hitler o incentivaram para a retomada da prática. A razão disso parece ter sido pouco científica. O fundador da homeopatia, Chistian Hahnemann, era alemão. Assim, a tentação de retomar a prática era óbvia: isso aumentaria o sentimento nacionalista.

Essas e outras histórias estão bem relatadas no livro "Truque ou tratamento", que foi traduzida em 2013 pela editora Record. Os autores Edzard Ernst e Simon Singh ainda nos contam mais sobre a homeopatia. Coisas que geralmente os homeopatas não sabem ou escondem.

É verdade que Benveniste e colaboradores publicaram um artigo na prestigiada revista Nature. Alegação: que a água possuía memória, e de alguma maneira a ultra-diluição em preparados homeopáticos poderia reter moléculas da solução original. Como foi feito (em síntese): basófilos (uma célula sanguínea que reage a um agente alérgico específico) foram colocados em contato com soluções cada vez mais diluídas e ainda reagiram contra o componente alérgico que as compunha.

Mas também é verdade que os experimentos foram conduzidos sem rigor. Meses após a publicação um grupo de cientistas visitou o laboratório de Benveniste no intuito de acompanhar as experiências. Como a alegação era extraordinária (assim exigindo evidências igualmente extraordinárias) o grupo propôs experimentos de duplo-cego, nos quais os realizadores das experiências não saberiam previamente quais frascos continham as soluções mais diluídas (mais precisamente, o analista não saberia identificar quais as amostras de basófilos teriam sido tratadas com soluções homeopáticas e quais teriam recebido apenas tratamento com água). Isso eliminaria a tendência do laboratorista em privilegiar os resultados das amostras mais diluídas, pois as análises dependiam de certa forma de um componente subjetivo para se chegar ao resultado. Assim, constatou-se que, após essa nova batelada de experimentos, os basófilos não reagiram de maneira distinta do grupo controle contendo apenas água.

Os homeopatas ainda não dizem: a mesma revista publicou mais três artigos nos quais pesquisadores independentes falharam em repetir os resultados alegados por Benveniste. Ele também foi o primeiro pesquisador a ganhar dois igNobel (paródia do prêmio Nobel).

Desde aquela época (final de década de 80), o mágico James Randi já vinha oferecendo uma boa quantia para quem apresentasse dados convincentes da eficácia da homeopatia (ou de qualquer outra alegação extraordinária). Aliás, ele esteve presente na comissão científica da Nature para investigar os resultados do grupo liderado por Benveniste. A oferta aumentou com o passar dos anos, e hoje está em um milhão de dólares. Então, alguém arrisca?

Conclusão, homeopatia não se distingue de pílulas de farinha.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Acreditando em coisas estranhas: os moais da ilha da Páscoa e o mito do uso de somente 10% do cérebro

[Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil - Bule Voador]


A mente humana é pródiga em dar adesão a alegações extraordinárias. Não raro uma crença popular, geralmente desprovida de justificação, serve como premissa ou sustentação de outra crença e/ou mito. Dois exemplos ilustram esse comportamento humano: as hipóteses fantásticas sobre o movimento e criação dos moais da ilha da Páscoa e a crença no mito do uso dos 10% do cérebro. Curiosamente não aparecem sempre como mitos isolados, pois muitas vezes são alegadamente complementares.
Moais. Fonte: Wikipedia.
No caso da ilha da Páscoa, a criação e movimentação dos moais suscitam diversas fantasias. O pacote de explicação inclui teses bizarras do tipo que as estátuas criaram vidas e começaram a se locomover (essa faz parte da própria tradição local)  e outras igualmente improváveis como a ajuda de extraterrestres. Sobre essa última, é reconhecido o papel de disseminação dessas ideias pelo do escritor Erich von Däniken. Ele e seus apoiadores adoram falar sobre “teorias”, mas caso estivessem comprometidos com um escrutínio sério reconheceriam que suas ideias são no máximo propostas especulativas (quando não são devaneios ou até mesmo mentiras).
Há mais de  seis décadas que a ilha da Páscoa tem sido seriamente estudada por antropólogos, historiadores e arqueólogos. Não é o intuito desse texto demonstrar os equívocos dos proponentes das ideias pouco prováveis envolvendo a ilha. De qualquer forma, parece que a sobrevivência desses mitos ocorrem em virtude da falta de informação. Por exemplo, na década de 90 um grupo de pesquisadores e cerca de 75 voluntários conseguiram erguer e transportar uma réplica de um moai de 10 toneladas fazendo uso apenas de material disponível na ilha (veja uma breve narração aqui, e a página da empreitada aqui). Mais interessante ainda é o fato de que outras expedições já haviam realizado experimentos locais similares. É o caso do famoso explorador Thor Heyerdahl, que em meados da década de 50 realizou uma expedição à ilha da Páscoa e parte de suas simulações das estátuas pode ser verificada em vídeos na web (Veja aqui, próximo aos 35 min.). Interessante notar que o explorador lançou o livro com seus relatos chamado “Aku-Aku: the Secret of Easter Island” uma década antes do famoso livro do Däniken “Eram os deuses astronautas?”. Talvez esse acontecimento exemplificaria alguma tendência de superestimar o extraordinário em detrimento da análise criteriosa.
 Outro mito popular diz respeito à capacidade do uso do cérebro para além dos 10% que os seres normais são capazes (em algumas teses alternativas a alegação é de usamos apenas um quarto do cérebro, o que revela ainda mais confusão e falta de consenso entre os propagadores de mito).
Em um estudo realizado pela neurocientista Suzana Herculano foi mostrado que no Brasil 59% das pessoas com graduação que foram entrevistadas acreditavam no mito. No livro “Os 50 maiores mitos populares da psicologia - Derrubando famosos equívocos sobre o comportamento humano”, os autores argumentam várias razões pelas quais o o uso de apenas 10% do cérebro é uma mentira. Conforme já discutido em outros textos, o livro também ressalta que o cérebro humano tem sido moldado pela seleção natural. Além disso, ele consome 20% do oxigênio respirado e representa meramente 2% do peso do corpo. Assim, além de ser um desperdício evolutivo usar apenas 10%, caso o mito fosse verdade (o que implica aceitar que 90% do cérebro seria desnecessário), haveria grande vantagem evolutiva em seres humanos com cérebros menores e mais eficientes, resultando que o caminho evolutivo mais natural fosse de eliminar indivíduos com cérebros ineficientes. Não apenas razões evolutivas confrontam o mito, mas também razões celulares e metabólicas, eletrofisiológicas, entre outras.
A movimentação dos moais na ilha da Páscoa é um tema tão fascinante para alguns que explicações mundanas parecem não ser suficientes. Daí que essa inquietação pode ser fonte de alegações extraordinárias na tentativa de explicar que as gigantescas pedras puderam ser movimentadas em virtude de seres humanos capazes de utilizar mais do que apenas os 10% do cérebro que a maioria dos mortais é capaz (algumas vezes nomeado de mana). É uma tese sedutora: se ralmente usamos apenas 10% de nossas capacidades cerebrais, então imagine o que não poderíamos ser capazes se – com um esforço e dedicação – pudéssemos trabalhar o restante que não é utilizado.
Apesar da sedução que essas histórias extraordinárias possam causar nenhuma delas é verdade. Nada mais é do que a criação de um mito em cima de outro mito.  A movimentação dos moais não exigiu nem tecnologia extraterrestre tampouco alguma capacidade extra-cerebral-humana; a história dos 10% do cérebro só convence aqueles que ainda não se tiverem vontade ou oportunidade de investigar a invericidade de uma alegação desse tipo.
Mas por que o cérebro humano é tendencioso a acreditar em coisas extraordinárias? Rascunhando um pouco uma possível resposta podemos encontrar sugestões na leitura de livros do psicólogo Michael Shermer. No livro “Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas”, Shermer nos lembra que humanos são animais que procuram por padrões. Tentamos identificar significado ao que é complexo, além de muitas vezes desejarmos respostas rápidas às perguntas; e não raro a crença no extraordinário antecede a racionalização. Nesse sentido, o psicólogo sugere dois tipos de erros de pensamentos, a saber: Erro do tipo 1 - acreditar em algo errado, ou seja, sem evidência nenhuma (falso positivo); e erro do tipo 2 - rejeitar algo verdadeiro (a negação de um fato científico). Vale salientar que a questão não é que essas pessoas são pouco inteligentes, mas muito provavelmente o erro do tipo 1 ocorre mais em função da desinformação do que pela ignorância.
Acreditar em coisas com pouca ou nenhuma evidência parece ser o caso de pessoas dispostas a dar adesão à alegações com pouco teor de credibilidade, como o caso das ideias fantásticas sobre os moais e uso de somente 10% do cérebro.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Os melhores filmes que eu vi em 2013

Costumo eleger os melhores filmes visto no ano, mas nem sempre publico essa lista. O farei esse ano. Não apenas os meus favoritos, mas a lista completa de todos que pude ver. Foram 121 filmes vistos; assim, a lista dos favoritos que segue abaixo não é exclusiva de produções de 2013 - inclui produções de qualquer ano, desde que tenha sido visto entre Janeiro e Dezembro de 2013. Dito isto, devo revelar a escolha desses filmes foi um processo difícil - foi uma lástima que excelentes produções não estiveram na lista dos 15 melhores. Isso porque durante o ano tive contato com filmes que são verdadeiras obras-primas, o que, de certa forma, acabou ofuscando um pouco as produções do ano corrente e eventualmente as de 2012. É verdade que alguns eu revi, mas mesmo assim foram catalogados como filmes assistidos, e portanto com direito a entrar na lista dos melhores. 
As duas listas abaixo não seguem ordem de preferência, mas apresenta mais ou menos a ordem dos filmes vistos. Chega de papo...

Os 15 melhores filmes



O mestre (Paul Thomas Anderson, 2012)
Anderson apresenta nessa obra mais um exemplar de sua genialidade, com uma narrativa focada em personagens brilhantemente atuado por Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman.

O som ao redor (Kleber Mendonça Filho, 2012)

Excelente representante do cinema nacional que evidencia indubitavelmente a qualidade cinematográfica do cinema pernambucano.

A paixão de Joana D`Arc (Calr Theodor Dreyer, 1928)

Uma obra-prima do cinema mudo francês - que na época inovou com o trabalho de câmera.







Filme demência (Carlos Reichenbach, 1986)

Inspirada na obra Fausto (Goethe), o filme de Reichenbach é um dos melhores exemplares do movimento nacional Cinema Marginal.

Os Incompreendidos (François Truffaut, 1959)

Com essa fantástica obra Truffaut apresenta um dos filmes que marcaram o início de um dos movimentos mais importantes da história do cinema, a nouvelle vague.






Branca de neve (Pablo Berger, 2013)

Produção espanhola aparentemente esquecida inclusive pela crítica especializada, "Branca de neve" é uma das melhores surpresas do ano de 2013.







Amor pleno (Terrence Malick, 2012)

Uma poesia visual contada pela mãos do sensível Malick resultou em um dos filmes mais belos do ano.







A caça (Thomas Vinterberg, 2012)


Thomas Vinterberg já abandonou o Dogma 95, mas sua competência continua não menos impressionante do que quando foi no início de sua carreira.







Profissão: repórter (Michelangelo Antonioni, 1975)

Um clássico que retoma o tema de identidade realizado pelo italiano Antonioni.





Rush - no limite da emoção (Ron Howard, 2013)


A rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda apresentada como um estudo de personagens fez brilhar a carreira mediana de Howard. 









São Paulo Sociedade Anônima (Luís Sérgio Person, 1965)

Um dos grandes clássicos do cinema nacional continua ainda atual e brilhante.






Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1984)


Por muitos considerado o exemplar máximo do cinema brasileiro.








Azul é a cor mais quente (Abdellatif Kechiche, 2013)

Um filme magistral do francês Kechiche, que explora sem concessão os altos e baixo do amadurecimento de uma adolescente.




Hiroshima, meu amor (Alain Resnais, 1959)


Uma belíssima obra com temas abordando amor, guerra e saudade.








Um cão andaluz (Luis Buñuel, 1929)

O clássico de Buñuel que inicia o movimento surrealista no cinema.









Menção honrosa - nove filmes(*)



A conversação (Francis Ford Coppola, 1974)

Blue Jasmin (Woody Allen, 2013)

Festa de família (Thomas Vinterberg, 1998)

Qual o nome do bebê (Alexandre de La Patellière, 2012)

O sonho de Wadjda (Haifaa Al Mansour, 2012)

A ilha das flores (Jorge Furtado, 1989)

Gravidade (Alfonso Cuarón, 2013)

Amor  (Michael Haneke, 2012)

Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013)

Lista de todos os filmes vistos

-Barbara
-Hotel Transilvânia
-A vida de Pi
-A viagem
-Amor
-Restrepo
-Django
-O mestre
-Lincoln
-A Pequena Lili
-Vinhas da ira
-Argo
-O som ao redor
-O palhaço
-Dois coelhos
-O anjo azul
-A paixão de Joana D`Arc
-Filme demência
-Superoutro
-Brasil
-O bandido da luz vermelha
-O lado bom da vida
-Os miseráveis
-Oblivion
-Lunar
-THÉRÈSE D.
-Holy Motors
-Os Incompreendidos
-Detona Ralph
-Qual o nome do bebê
-Os pivetes
-O quarto verde
-Star Trek
-Terapia de risco
-Depois de Maio
-O sonho e Wadjda
-Jogos vorazes
-A conversação
-Gomorra
-O exercício do poder
-A estrada da vida
-Guerra mundial Z
-A estrada da vida
-Noite e neblina
-Branca de neve
-Marighella
-Amarcord
-Fellini's Casanova
-Eu me lembro
-Os amantes passageiros
-Amor pleno
-E la nave va
-Esta Rua Tão Augusta
-Terra estrangeira
-Sem créditos no final
-Bye bye Brasil
-Na lata
-Satyricon
-A entrevista
-Cinema, Aspirinas e Urubus
-Árido movie
-Um conto à deriva
-A caça
-Menos que nada
-Profissão: repórter
-Círculo de fogo
-Batman
-Mi gente linda, mi gente bella
-Flores raras
-Rush - no limite da emoção
-O tempo e o vento
-Invocação do mal
-Elysium
-A conquista do espaço
-Gravidade
-Balneários
-O Homem ao Lado
-Ainda Orangotangos
-Cantando na chuva
-A fera da guerra
-Psicopata americano
-O Conselheiro do Crime
-O espadachim de um braços só
-Extermínio
-Medianeiras
-Star Trek - Além da escuridão
-Gravidade
-O dragão chinês
-Camille Claudel 1915
-Tatuagem
-Tese sobre um homicídio
-Cafundó
-São Paulo Sociedade Anônima
-Os cinco venenos de Shaolin
-O Guia do Mochileiro das Galáxias
-Blue Jasmin
-Filhos da meia noite
-O mestre invencível
-Aningaaq
-Grand Central
-A religiosa
-Tango Libre
-Eu Não Quero Voltar Sozinho
-Eu e você
-Festa de família
-Jogos Vorazes - Em chamas
-Julien Donkey-Boy
-Azul é a cor mais quente
-Lore
-Hiroshima meu amor
-Foxfire - confissões de uma gangue de garotas
-Capitão Phillips
-Mifune
-Um cão andaluz
-O Hobbit: a desolação de Smaug
-Última viagem a Vegas
-A ilha das flores
-De Costas Pra Rua - Um filme sobre Panelada
-A vida secreta de Walter Mitty
-A cidade dos amaldiçoados
-A Fúria

(*) Atualização (21.01.2014) - Inicialmente eu escolhi oito filmes. Um número totalmente arbitrário. Sendo assim, há mais de 20 dias eu sentia que havia feito uma injustiça. Votei aqui e agora sinto-me aliviado: adicionei o filme "Tatuagem", que não podia ficar de fora.